Você sabe o que é Psicologia em Emergências e Desastres?

Atualmente denominada Psicologia da Gestão Integral de Risco e Desastre, essa é uma área ainda em construção na Psicologia e com pouquíssimos profissionais capacitados para atuar em situações de crise. Profissionais com esse conhecimento estão aptos para trabalhar em qualquer situação critica desde grandes desastres até incidentes que parecem menores, mas que incluem perdas violentas, abruptas e inesperadas.

Os atendimentos ocorrem de forma totalmente diferente das nossas referências profissionais. Pode acontecer na calçada de uma rua qualquer, em banco de praça, em uma sala de aeroporto, em um cantinho de um colchão no chão de uma quadra esportiva, num leito de hospital, na sala de espera do IML ou do serviço funerário, no Pronto Socorro, dentro de uma escola ou empresa. Nunca sabemos quem, quando e onde será nosso próximo atendimento.

emergencias-e-desastres-blog-4Na maioria das vezes nossos encontros são únicos ou de alguns dias e ficamos com as histórias daquelas pessoas sem saber o que aconteceu com elas depois da tragédia. Por outro lado, pode haver uma convivência muito próxima e prolongada durante um desastre de grandes proporções e maior exposição ao estresse e suas consequências. Trata-se de um trabalho fascinante, pelo qual nós, psicólogos, rapidamente nos apaixonamos, porém, é preciso ter consciência e responsabilidade de se cuidar e se preparar.

A Psicologia nessa área começou com atendimentos aos familiares de pessoas mortas em desastres e aos sobreviventes. Mais tarde a atenção psicológica passou a acontecer imediatamente após o desastre ou acidentes com grande número de vítimas. Desde 2016, com a nova denominação, amplia nossas ações para a Gestão Integral de Riscos e considera as cinco fases do desastre: prevenção, mitigação, preparação, resposta e recuperação.

Para trabalhar nessa área os profissionais devem ter conhecimentos sobre: O que são desastres e tipos; Possibilidades de intervenções psicológicas nas cinco fases do desastre; Intervenções psicológicas em perdas, morte e luto; Estresse, trauma, transtorno do estresse pós-traumático e distúrbios de ansiedade; Mapa dos desastres no Brasil e os principais setores envolvidos; Política Nacional de Proteção e Defesa Civil, Mudanças climáticas e degradação ambiental; Políticas públicas; Emergências humanitárias; Gestão Integral de Riscos; Aspectos éticos e metodológicos nos gerenciamentos aos desastres entre outros.

Para a Psicologia, desastre depende da perspectiva daquele que o nomeia e do lugar que ele ocupa nessa interação com o evento. Trata-se da ruptura do funcionamento habitual de um sistema ou comunidade devido aos impactos ao bem-estar físico, social, psíquico, econômico e ambiental de uma determinada localidade. Assim, nós, psicólogos, trabalhamos, acolhemos e cuidamos daquela pessoa que sofre e de como ela convive com seu sofrimento. Lembro sempre que não existe dor maior, nem dor menor. Existe dor e ela é do tamanho que aquela pessoa diz que é!

emergencias-e-desastres-blog-3A psicologia precisa conhecer levantar necessidades, mapeá-las, planejar, propor e colocar em prática ações de prevenção, resposta e reconstrução não só para familiares de pessoas mortas e sobreviventes, mas também para profissionais de resgate, profissionais da mídia e outros que trabalharem no desastre. São necessárias ações específicas para ser colocadas em prática em abrigos, bem como para comunidades em risco. Enfim, ainda há muito a se fazer em Psicologia e emergências e desastres.

Nessa área também se trabalha com empresas, escolas e outras instâncias em casos de suicídios, doenças graves, incidentes críticos e outras fatalidades. É preciso estar preparado para lidar com o auge do sofrimento humano, não para não sofrer junto, mas para saber como identificar e lidar com o sofrimento do outro e o seu e, principalmente, para não tentar estancar o sofrimento rapidamente, como se fosse sangue.

Enfim, com as mudanças climáticas, o aumento da violência urbana, o aumento da migração e imigração e consequentemente da pobreza, o rápido avanço tecnológico e o retorno de epidemias, os desastres são iminentes. A questão não é “se”, mas “quando” o desastre acontecer, estaremos preparados para acolher? para atender? para agir?

Se a resposta for “não”, então, quando estaremos?

Lembro que desastres não são naturais, sempre há interferência humana. Sendo assim, você precisa refletir qual é a sua parte nisso.

Desastres não são naturais, natural é a vida e o amor que existe nos seres humanos. Portanto, precisamos constantemente de novos horizontes de formação e preparo.  (Alexis Ruiz, 2016).

elaine-alves-psicologa-prestar-cuidados-em-psicologiaElaine Alves é Psicóloga clínica (CRP 06/30847-1); Pós-Doutorado pelo Instituto de Psicologia USP; Membro do Laboratório de Estudos sobre a Morte (LEM-IPUSP); Membro do Centro de Estudos e Pesquisas em Emergências e Desastres (CEPED-USP); Membro de Núcleo de Emergências e Desastres do Conselho Regional de Psicologia de São Paulo (NED-CRPSP). Docente na Universidade Nove de Julho

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *